A FÉ
NO RIO
2°
DIA - SEGUNDA
(04.04.2011)
Acredito que se você quer ver o
tamanho do amor de um povo, basta sentir a fé que anima as vossas casas. A fé
que me refiro inclui muito mais do que algum seguimento religioso – diziam que
nas primeiras reflexões religiosas reconhecidas no mundo e sobre o próprio mundo, cada
cultura criava deuses à sua semelhança. Era o homem querendo ser Deus, e hoje
eu só vejo Deus querendo ser um pouco de cada homem.
Deixei a segunda-feira inteiramente
para me dedicar a saída por todo o coração financeiro do glorioso Rio de Janeiro, que carrega em sua imagem a mais forte e mais poderosa das imagens - Cristo com
os braços abertos - como se ali acolhesse os mais diversos perdões e abençoasse
os mais diversos corações.
Iniciei andando do bairro Glória,
na mais gloriosa admiração. Olhava para as pessoas como se fosse a ultima vez
que as visse e que assim fosse. Às vezes eu tinha um brilho no olhar que me
deixava escapar alguma lágrima de alegria, e de tristeza em ver a humanidade nos
mesmos passos de qualquer lugar. Entrei em todas as igrejas que me tomavam a
frente, admirei cada projeto arquitetônico planejado em cada asa de anjo, em
cada vela queimada, em cada cheiro de flor e muito mais que todo o amor que eu
carregava na alma, me sobrava à dor de ver nas portas das igrejas; homens,
mulheres e crianças sem seus direitos sociais.
Somos filhos de um povo estranho e nos tornamos assim quando mergulhamos em nossas próprias convicções. Fui pra “Saúde”, mas a pé me deixei calejar até a Lapa. Vi uma mistura de edifícios famosos, monumentos, palácios e mais palácios com a cabeça no príncipe que se encontrava no alto e bem longe dali.
Encontrei todas as Igrejas que
busquei. Rezei orações diferentes e inventadas momentaneamente em cada uma delas.
Olhei São Bento, Santo Antônio, São Francisco, São José e me lavei de Santas,
desde a Nossa Senhora do Rosário até a do Monte Carlos, indo de Luzia me perdi na Nossa Senhora Sem Hora. Vi santos de todos os jeitos, de todas as cores e com todos
os tipos de milagres realizados. Depois que acabou o dia havia esquecido todos
os meus pedidos, então prossegui com todos os meus desejos.
Qualquer ato religioso na
infância de uma criança é de grande importância e valor. Foi pensando assim que
cresci vendo homens rezando ao pé do Padre Cícero às 18h, Senhoras fazendo
novena todo início de mês, meu pai me levando às missas de domingo, e minha mãe
agarrada ao seu livro de orações com um retrato secreto do seu grande amor.
A vida nos intimida em seus atos, e grandes valores que os homens entendem que deverão dar em suas vidas santas, são em matérias e alusões do que não tem vida e que de alguma forma os melhora.
Talvez isso seja um pouco de mim, mas é muito mais do mundo. Vejo homens falar
com santos e esnobarem com quem convivem, vejo mulheres doarem o pão e a mesma
língua que recebe o corpo de cristo, fala mal do irmão. Isso tudo já está tão batido que ONG´ s e Associações viraram moda pra lavarem a alma de alguns cristãos, ou não.
O que convém é o que não existe.
Precisamos ter fé para sobreviver e isso é um fato absolutamente real para
sabermos lhe dar com nós mesmos, porque essa é a grande verdade em que acredito
– tentamos nos conhecer pelo desconhecido, tentamos nos envolver em algo fácil
de fugir. Nada é para sempre, se não for cuidado e nem zelado. Vejo pessoas
mudarem de religião por não se acharem – se me pedissem eu as daria um espelho
de presente, mas, mais que isso, eu daria a minha mão, o meu abraço e todo o
meu aconchego - Precisamos de calor humano, seja aos pés de cristo, ou aos olhos
dos anjos. A fé que anima as vossas casas, são as mesmas que aquecem os nossos
corações. Ser bom não é uma obra divina, e sim, um bem humano.
Passei no “Largo da Carioca” pra
ver um monte de Cearenses, e os levei até a Catedral de São Sebastião com toda a
minha admiração por toda obra divina sentida. Depois olhei ao longe e vi a “Vale”,
a “Embratel” e me encantei com o espelhado da “Petrobrás”, que foram obras na
qual trouxeram trabalho e sustento pra milhões de brasileiros, não muito
diferente das religiões que mostram o trabalho de homens se dedicarem a missão
do desconhecido “eu”.
Não entendo muitos das religiões,
mas já me deixei tirar a curiosidade do que acontece em alguma delas. Acredito
que quando eu tiver meus 70 anos eu possa ter uma fé que faça dedicar-me em uma
delas – Enquanto sou nova e viril transformo a minha fé em energia para os meus
dias, busco um pouco de todas e analiso gestos e humanidade em cada uma delas, onde, de tudo se tira um pouco. Os
melhores escritores do mundo sabendo disso leem a Bíblia e trazem pra uma única
versão a linguagem universal.
“O Rio de Janeiro continua lindo”
e Deus ficará para sempre de braços abertos – E este é um grande ensinamento
aos homens de boa vontade. Aos que tentam se encontrar em alguma religião para
conquistas da vida, torço para que a vida os traga, as conquistas para a alma
ligeiramente humana.
(Jane Eyre Queiroz)