quarta-feira, 31 de agosto de 2011


BAR DO JOÃO, E TANTOS OUTROS

7.° DIA - SÁBADO
(09.04.2011)

- Seis copos desta mistura da casa: Cachaça e Amendoim. Umas cervejas “Original”mente geladas, e 16 graus na temperatura que a pele possa sentir, por favor.


Havia esquecido o que eram misturas afrodisíacas até o amanhecer. E esses foram todos os pedidos no Árabe Restaurante, sem esquecer os Kibes, claro. Entre passos e compassos, pude respirar mais verde, mais verdade, e muito mais sentido. A sensibilidade que por vezes se retraí, é a mesma que nos traí em momentos nada imaginados.

Pude ouvir “Revelação”, e pra ir de ponto ao encontro, jamais queria ouvir “Jura Secreta”, porque o sentido trás o que é vivido – “Chorar é bonito e não faz vergonha, eu só acredito no homem que chora e sonha”, e assim diria Fagner. Estava entre as matas, e o lugar me lembrava “Jardim dos animais” que paraíso! A vontade era de levar meu povo na ponta do pé e dançar um Forró bem gostoso, como quem vive no balançar do quadril  “No Ceará É Assim”. “Bateu Saudade”...

Fui apresentada ao João, que me lembrou instantaneamente ao Poeta de Pele Vermelha: Um homem vivido, sentido, e eternizado com suas palavras em forma de poesia; hora existentes, hora improvisadas, e outras tantas horas apenas sentidas. João é uma daquelas figuras que entra para a lenda, ou para a tradição. Um tanto distraído, um tanto explosivo, que se vê na pupila dos olhos, os amores mal vividos. De olhar direto, com música na ponta dos neurônios, ritmos perdidos, e outras horas achados sem querer. Ele me serviu uma cerveja, quando o pedido foi uma água, e das descupas nada se vale:

- Se já colocastes o pecado para beber, passe a língua com delicadeza e experimente logo a safadeza.

- Ah João, se fosse assim tão fácil. Olhe para cima: Tu vês a música? Tu vês o violão? Ou tu vês o homem com a canção? Tu me dirás uma resposta simples, como a forma que vê, porque tu não tens sentimento em cima da coisa que para mim é objeto direto, repleto de adjetivos, e acompanhado de preposições essenciais.  Eu vejo cada parte separadamente, e tudo em uma só, e muito mais do que a visão possa me mostrar.

João, Altista Plástico, como assim se denomina, recita o Poema da Vida, fala de Amor e Humanidade, sussurra a importância de nossos passos, e com um sopro voltado para a lua cheia que nunca acaba; Uiva-me de graça a resposta pedida: VIVA.

Dou-lhe um sorrido, explicando a minha origem através dos versos de Patativa do Assaré, e ninguém acredita. Sigo ligeiramente embreagada o conselho de João, e continuo a estrada. O que constitui a soberba de ser sóbrio(a)? E o corpo saudável no mundo instintivo? Aqui, não faço nenhuma apologia à embreaguez, apenas um questionamento dentro da capacidade de poder sentir tudo de novo no amanhecer, com lembranças da forma diferente de "se" poder ser.

Uma janela larga, e uma natureza de encher os olhos e a boca no verdadeiro “Bom Dia”.  Água gelada, e a mais gostosa de Itaipava. O seio, o ventre, e qualquer parte onde haja neurônios para transmitir sensações – A questão em nós mesmo, não é a do formato, do tamanho, da cor, da idade; mas sim, se existe sensações, e se funcionam como deveriam. Se temos reações, se temos todo um leque, todo um espectro de sentimentos. E foi preciso o álcool para se chegar até aqui, a essa tal de lucidez reflexiva. Compreendo a vida como um ser por seu próprio mérito, que nos ama, que depende de nós, para quem, de vez em quando, somos uma grande alegria e que, de vez em quando representa à alegria para nós.

E para manter a nossa alegria, como um todo, às vezes temos de lutar por ela. Podemos ter de abdicar de muitos confortos por algum tempo. Podemos viver sem a maioria das coisas por longos períodos, praticamente sem qualquer coisa, mas não sem a nossa alegria. O caminho é dialogar com pensamentos e sentimentos que tanto nos tocam com delicadeza, quando trovejam dentro de nós.



(Jane Eyre Queiroz)

segunda-feira, 15 de agosto de 2011


DO ÚLTIMO AO PRIMEIRO

8.° DIA - DOMINGO
(10.04.2011)

Nove anos, isso, 9 anos era a idade que eu tinha quando meu pai decidiu me fazer perder o medo de altura. Subimos em um prédio muito alto, e lembro bem disso, porque chegava a uma determinada altura quando eu olhava para o prédio que não conseguíamos mais contar os andares, e o sol estava baixando, e a noite começava a surgir. Chegamos na cobertura, e o vento era tão livre que brincava de rodar e assobiar. Meu pai andava com um vigor e uma disposição que eu não me dispunha a ter, foi quando ele olhou para trás e disse: “Venha, solte essa escada e ande”. Eu balancei a cabeça e baixei os olhos, e nada falei, estava com medo, muito medo. Ele se aproximou, levantou o meu rosto e disse: “Você vai aprender ainda muita coisa mocinha, e nessas lições, eu só quero que você nunca tenha medo de tentar, então preste muita atenção no que eu te direi agora...”. E com gestos ele me explicou: ”...  A sua mão direita é o mundo, e a sua mão esquerda será sempre você. A todo instante o mundo tentará te abraçar e você se sentirá sufocada e calorenta, então partirá. Mas alguns outros momentos, você irá querer abraçar o mundo, e irá pedir muita força para o prender, só que você esquecerá que a sua mão esquerda não tem toda a força de sua mão direita, então o mundo se partirá, se partirá quebrando alguma coisa, ou apenas se partirá, e daí virão as pequenas descobertas...  Aos pouco irá perceber que não é necessário de força para ter o que mais gosta, basta ter um sorriso e um abraço, e uma lição que valerá um diamante, a lição de escrever ou falar o que sente. Perceberá que as mãos não são para prender, e sim, para dar, receber e caminhar. Segure agora a minha mão, e vamos caminhar até a ponta do prédio”. O sorriso surgiu, o calafrio continuou, caminhei com ele até a ponta do prédio e olhei pra toda imensidão que existia da incrível Fortaleza, fora e dentro de mim. Fechei  os olhos e senti o vento da tal felicidade que parecia entrar no meu ventre e tirar todo o medo que me fazia sentir. E o medo parece que fica depositado mesmo dentro do ventre, porque a gente sente como calafrios a hora que ele vem,... E o momento que ele se vai...

O meu último Domingo chegou. Era para ter me levantado cedo e ter ido ao Morro de Santa Tereza. Mas não, eu não vou. Foi a decisão naquele instante. Arrumei a mala, e fui vestir o biquíni, coloquei uma canga e saí antes de chegar o horário de ir ao Aeroporto. Cumprimentei o porteiro e tirei a havaiana do pé, e a dei para as minhas mãos segurarem e caminharem com os meus pensamentos. Queria sentir tudo, e se pudesse, tudo de novo, e tudo outra vez. Não via gente na rua, não via nada, apenas meus pensamentos leves e que me levassem, e após dois quarteirões cheguei  à Praia de Copacabana. Olhei para o mar como se ele fosse me dizer alguma coisa, e nada disse, então resolvi correr. Quando a gente soa, parece que os nossos pensamentos escorregam pelo corpo. Só que os meus não só escorregaram como tomaram conta dos meus pés.  Cheguei no Arpoador e não tive dúvidas de que subiria e olharia aquela imensidão que não era Fortaleza, e nem me traria a força que eu precisava. Não chorei mais, fechei os olhos e sorri. Tive que sair e andar até o posto “7”, o primeiro posto que observei a numeração ao caminhar naquele local, e da minha maneira, cumprimentei à todos que eu passava com o meu bom dia de vida.


E que tudo seja leve, e me deixe levar. Fui almoçar com os amigos que ainda não havia visto, e tomei o “Allegra” para ao menos me alegrar, e assim me satisfazer do medo que não deixei interromper toda a minha vontade de ter vivido momentos fantásticos, quando me destinei a uma cidade de Reis e Princesas. Não comi cogumelos, logo, não cresci e nem mesmo diminuir, mas não poderia deixar de levá-los, ou melhor, trazê-los comigo. Agora me sinto grande com as lembranças, e pequena com os desejos. Ainda vou ver o morro de Santa Tereza, mas de mãos dadas aos passos que me serão dados.


No aeroporto estava lá o Capitão Nascimento, que nem um cumprimento se atreveu a dar. Mal ele sabia que a minha máquina fotográfica estava tão longe e tão bem. Pedi pra parar Capitão Nascimento, pedi pra parar. Nada mais era preciso fotografar, os melhores momentos foram fotografados e me doados, de qualquer maneira, e eu os aceitei. É preciso de tão pouco, e a felicidade é uma lenda que nos faz partir, mas no acalento do mundo ainda espero encontrar, como o vinho que nasce na serra e o mar no sertão, a encantada precisão das horas e dos momentos que ainda virão.

(Jane Eyre Queiroz)