segunda-feira, 15 de agosto de 2011


DO ÚLTIMO AO PRIMEIRO

8.° DIA - DOMINGO
(10.04.2011)

Nove anos, isso, 9 anos era a idade que eu tinha quando meu pai decidiu me fazer perder o medo de altura. Subimos em um prédio muito alto, e lembro bem disso, porque chegava a uma determinada altura quando eu olhava para o prédio que não conseguíamos mais contar os andares, e o sol estava baixando, e a noite começava a surgir. Chegamos na cobertura, e o vento era tão livre que brincava de rodar e assobiar. Meu pai andava com um vigor e uma disposição que eu não me dispunha a ter, foi quando ele olhou para trás e disse: “Venha, solte essa escada e ande”. Eu balancei a cabeça e baixei os olhos, e nada falei, estava com medo, muito medo. Ele se aproximou, levantou o meu rosto e disse: “Você vai aprender ainda muita coisa mocinha, e nessas lições, eu só quero que você nunca tenha medo de tentar, então preste muita atenção no que eu te direi agora...”. E com gestos ele me explicou: ”...  A sua mão direita é o mundo, e a sua mão esquerda será sempre você. A todo instante o mundo tentará te abraçar e você se sentirá sufocada e calorenta, então partirá. Mas alguns outros momentos, você irá querer abraçar o mundo, e irá pedir muita força para o prender, só que você esquecerá que a sua mão esquerda não tem toda a força de sua mão direita, então o mundo se partirá, se partirá quebrando alguma coisa, ou apenas se partirá, e daí virão as pequenas descobertas...  Aos pouco irá perceber que não é necessário de força para ter o que mais gosta, basta ter um sorriso e um abraço, e uma lição que valerá um diamante, a lição de escrever ou falar o que sente. Perceberá que as mãos não são para prender, e sim, para dar, receber e caminhar. Segure agora a minha mão, e vamos caminhar até a ponta do prédio”. O sorriso surgiu, o calafrio continuou, caminhei com ele até a ponta do prédio e olhei pra toda imensidão que existia da incrível Fortaleza, fora e dentro de mim. Fechei  os olhos e senti o vento da tal felicidade que parecia entrar no meu ventre e tirar todo o medo que me fazia sentir. E o medo parece que fica depositado mesmo dentro do ventre, porque a gente sente como calafrios a hora que ele vem,... E o momento que ele se vai...

O meu último Domingo chegou. Era para ter me levantado cedo e ter ido ao Morro de Santa Tereza. Mas não, eu não vou. Foi a decisão naquele instante. Arrumei a mala, e fui vestir o biquíni, coloquei uma canga e saí antes de chegar o horário de ir ao Aeroporto. Cumprimentei o porteiro e tirei a havaiana do pé, e a dei para as minhas mãos segurarem e caminharem com os meus pensamentos. Queria sentir tudo, e se pudesse, tudo de novo, e tudo outra vez. Não via gente na rua, não via nada, apenas meus pensamentos leves e que me levassem, e após dois quarteirões cheguei  à Praia de Copacabana. Olhei para o mar como se ele fosse me dizer alguma coisa, e nada disse, então resolvi correr. Quando a gente soa, parece que os nossos pensamentos escorregam pelo corpo. Só que os meus não só escorregaram como tomaram conta dos meus pés.  Cheguei no Arpoador e não tive dúvidas de que subiria e olharia aquela imensidão que não era Fortaleza, e nem me traria a força que eu precisava. Não chorei mais, fechei os olhos e sorri. Tive que sair e andar até o posto “7”, o primeiro posto que observei a numeração ao caminhar naquele local, e da minha maneira, cumprimentei à todos que eu passava com o meu bom dia de vida.


E que tudo seja leve, e me deixe levar. Fui almoçar com os amigos que ainda não havia visto, e tomei o “Allegra” para ao menos me alegrar, e assim me satisfazer do medo que não deixei interromper toda a minha vontade de ter vivido momentos fantásticos, quando me destinei a uma cidade de Reis e Princesas. Não comi cogumelos, logo, não cresci e nem mesmo diminuir, mas não poderia deixar de levá-los, ou melhor, trazê-los comigo. Agora me sinto grande com as lembranças, e pequena com os desejos. Ainda vou ver o morro de Santa Tereza, mas de mãos dadas aos passos que me serão dados.


No aeroporto estava lá o Capitão Nascimento, que nem um cumprimento se atreveu a dar. Mal ele sabia que a minha máquina fotográfica estava tão longe e tão bem. Pedi pra parar Capitão Nascimento, pedi pra parar. Nada mais era preciso fotografar, os melhores momentos foram fotografados e me doados, de qualquer maneira, e eu os aceitei. É preciso de tão pouco, e a felicidade é uma lenda que nos faz partir, mas no acalento do mundo ainda espero encontrar, como o vinho que nasce na serra e o mar no sertão, a encantada precisão das horas e dos momentos que ainda virão.

(Jane Eyre Queiroz)

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